Mentoria: o que é? onde vive? do que se alimenta?

Anne Glienke
6 min readJun 6, 2023

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A melhor palavra pra descrever o que a mentoria significou na minha vida profissional é atalho.

Durante as minhas transições de carreira eu fiz vários cursos; participei de meet-ups; fui voluntária; vi vídeos no youtube; li artigos e livros; criei projetos pessoais; conversei com muitos profissionais sobre caminhos que eu poderia seguir; passei (e ainda passo) por uma longa jornada de auto-conhecimento pra entender, dentre as minhas capacidades e possibilidades, o que mais faz sentido pra mim.

Mas, mesmo me dedicando tanto ao meu desenvolvimento, muitas vezes a minha sensação é a de ter um quebra-cabeças enorme que eu não sei nem como começar a montar.

Felizmente, logo no início da minha carreira eu tive a chance de ter experiências de mentoria que me permitiram estruturar meus planos e aprendizados de uma forma organizada e coerente.

E assim deu pra cortar muitos caminhos: enquanto sozinha eu perdia horas, dias, consumindo conteúdos aleatórios pra tentar entender meus desafios; com mentores eu conseguia focar exatamente no que queria resolver e fazer todo e apenas o necessário pra alcançar meus objetivos.

A mentoria é um grande atalho!

Fonte da imagem: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/JzE1dHEaAew

O que faz um mentor?

Na minha perspectiva, o mentor é a pessoa pra quem a gente leva as pecinhas do quebra-cabeças e pede ajuda pra montar.

Ele não vai montar tudo e entregar pronto — quem faz o trabalho é a gente. Mas ele vai perguntar: qual é imagem desse quebra-cabeças? Como você espera que ele fique quando você terminar de montar?

A partir daí, considerando a experiência que ele teve com mais, mais complexos ou apenas diferentes quebra-cabeças, ele dá dicas de como melhorar o processo de montagem: “começa pelas bordas”; “separa as peças por cor”; “monta essa imagem menor primeiro”; “deixa essas peças juntas porque esses dois pedaços tão conectados”.

Isso se traduz, na prática, como dar orientações, conselhos, feedback; contar histórias sobre como ele superou determinado desafio na carreira; dar dicas de como desenvolver uma skill etc.

A mentoria é um negócio cheio de nuances. Ela pode se encaixar em momentos e focar em aspectos diferentes da nossa carreira, ao longo da nossa vida profissional.

A gente pode, por exemplo, ter um mentor pra nos ajudar a fazer algo específico e muito bem delimitado, como melhorar o CV. Mas também pra questões amplas e complexas, como ajudar a entender qual é o caminho que a gente quer seguir na nossa profissão.

A gente pode decidir ter um ou vários mentores, de uma ou de várias áreas. Cada um pra nos dar suporte em um desafio.

Como escolher um mentor e pedir pra ser mentorado

Alguns dos meus melhores mentores foram/são meus gestores/tech-leads/team-leads. Não dá pra enfatizar o suficiente a importância de bons líderes no nosso desenvolvimento profissional.

Eles sabem qual é o nosso objetivo, nos ajudam a identificar nossas franquezas, a criar um plano pra melhorar, e acompanham nosso desenvolvimento de perto.

Se eles vêem que algo não tá funcionando, eles podem rapidamente nos sugerir uma nova estratégia. Eles nos deixam confortáveis pra errar e nos estimulam a continuar tentando. O impacto desse tipo de mentoria é gigantesco.

Como maiores interessados no nosso crescimento, nossos líderes imediatos são, na minha opinião, as pessoas com maior potencial de impacto no nosso desenvolvimento profissional.

Mas eu sei que nem sempre a gente se sente à vontade assim com um líder e tá tudo certo, existem outras alternativas.

Fonte da imagem: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/KzU0ezL9tJo

Quando eu comecei a receber mentorias, eu não chamava isso de mentoria. As coisas foram acontecendo de uma forma muito orgânica com amigos com quem eu trabalhei/estudei.

Eu tinha liberdade de chamar eles pra conversar, pedir a opinião, pedir ajuda. E por existir uma proximidade entre a gente, era natural que eles acompanhassem os meus passos (e eu os deles), e a gente continuasse se dando suporte mutuo.

É importante dizer que nem todos eram profissionais de análise ou engenharia de dados. Alguns eram profissionais de outras áreas da tecnologia, ou do RH ou até de áreas ainda mais distantes, como Marketing, Vendas, etc.

Esse tipo de mentoria também foi/é muito significativa pra mim, especialmente porque muitos dos meus amigos estão trilhando caminhos que, de alguma forma, se parecem com o meu. Assim, a nossa troca de experiências e pontos de vista acaba sendo muito fluida.

Eu também já abordei gente que não era do meu círculo (e nem me conhecia) pra conversas mais pontuais. Às vezes a gente quer saber a opinião de alguém que tem uma experiência específica e é super válido abordar essas pessoas.

No meu caso, eu iniciei conversas em meet-ups ou no LinkedIn, me apresentei, expliquei porque eu considerava a perspectiva da pessoa valiosa, e perguntei se ela toparia trocar uma ideia comigo sobra um assunto específico.

Se interagir dessa forma for muito desconfortável pra você, dá pra tentar plataformas de mentoria, como a ADPList, em que você pode agendar sessões gratuitas pra conversar com profissionais experientes do mercado.

Por fim, pode ser muito produtivo conhecer gente nova em comunidades. Existem comunidades de tecnologias, comunidades para mulheres, comunidades de pessoas que moram em determinadas regiões, e por aí vai. É só fuçar na internet ou ir perguntando que você encontra um lugar que combina com você.

Nesses ambientes você acaba encontrando um monte de gente que tá passando pela mesma coisa e pode ter dar dicas preciosíssimas.

Todas essas formas de mentoria são válida e podem dar um impulso na sua carreira.

Pra quem perseverou até aqui…

Fonte da imagem: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/KrCPgoIwgbQ

… algumas dicas práticas, enfim!

Independente da forma de mentoria que você escolher, você pode se preparar seguindo os seguintes passos:

Defina qual é o problema que você precisa de ajuda pra resolver

Quer rampar numa skill? Precisa de sugestões de material de estudo? Quer ouvir mais sobre a experiência de outra pessoa que tem uma carreira que você gostaria de ter? Quer dicas de como abordar um hiring manager? Quer descobrir como ser mais respeitado pelo seu time? Quer ajuda pra decidir se vira líder ou contribuidor individual? Quer melhorar o CV?

Faça uma pesquisa inicial por conta própria

Absolutamente não pergunte coisas que podem facilmente ser encontradas em uma pesquisa no Google. Além disso, se a pessoa produz conteúdo, dê uma olhada no que ela já produziu pra ver se a resposta não tá lá em algum lugar.

Quanto mais você conseguir demonstrar que já foi atrás de tentar descobrir as coisas por conta própria, mais você deixa claro que tem iniciativa e que vale o investimento de tempo que você tá pedindo.

Descubra quem é a melhor pessoa pra te ajudar

Pense em quem pode te dar uma perspectiva única sobre o seu problema.

Alguém conhecido: Chefe? Colega de trabalho? Amigo? Família? Profissional de outra área? Alguém que não é do seu círculo mas você admira?

Peça ajuda

Explique porque a perspectiva da pessoa é valiosa pra você e como ela pode te ajudar.

O que evitar:

  • Introduções vagas como "queria sua ajuda pra migrar pra área x".
  • Falta de contexto sobre como a pessoa pode te ajudar e porque você quer a ajuda dela especificamente: "você pode ser meu mentor?"

O que fazer:

  • Seja objetivo, claro e descritivo na introdução: "eu trabalho na área x, quero migrar pra área y. Minha experiência por enquanto é tal, tal e tal. Eu montei um plano de estudos mais ou menos assim. Você acha que isso faz sentido? Você mudaria alguma coisa?"
  • Não precisa necessariamente pedir pra ser mentorando de alguém, você pode só pedir ajuda com o seu desafio específico e ir mantendo contato. O mais importante é ser objetivo, claro e mostrar iniciativa.

Você pode pedir ajuda pra alguém que você já conhece ou pode abordar pessoas desconhecidas pelo LinkedIn ou em eventos. Além disso, dá pra usar plataformas de mentorias, como a ADPList. E também pode ser muito produtivo se juntar a comunidades.

Tenha em mente que nem sempre as pessoas vão estar disponíveis ou vão saber como te ajudar. Nesse caso, agradeça e parta pra próxima.

Pra encerrar: se disponibilize pra apoiar outras pessoas também. Ajudar outras pessoas a estruturar os pensamentos, processos de aprendizagem, dúvidas, vai te ensinar a conversar com seus mentores de forma mais eficaz.

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