Qual é a melhor forma de estudar pra entrar na área de Dados?

Anne Glienke
7 min readFeb 1, 2023

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Fazer faculdade? Pós? Bootcamp? Curso caro de influencer? Ver vídeos no YouTube? Ler todos os livros da O'Reilly?

TLDR: esse texto é um grande DEPENDE.

A internet fica bem dividida quando discute esse tópico. Muita gente diz que a educação (superior) formal é desatualizada e distante do mercado, portanto dispensável. Outros defendem que o background que uma graduação ou pós de qualidade podem te dar é incomparável, e que algumas posições são inalcançáveis pra quem só fez cursos ou bootcamps.

Esse texto não é pra bater o martelo sobre qual é a forma "certa" de se desenvolver. É pra discutir algumas vantagens e desvantagens de cada modalidade pra ajudar quem tá começando a tomar uma decisão— um pouco? — mais bem informada.

Senta que lá vem textão…

Fonte da imagem: https://bit.ly/3HMDWVA

Um bom alicerce faz muita diferença!

Eu considero a educação formal (especialmente graduação e talvez pós stricto sensus) muito importante e acho que ela não é substituível por cursos menores.

Na graduação você talvez não aprenda o que tá na moda — isso dá pra complementar com cursos externos. Mas você aprende (ou deveria aprender) a pensar criticamente, a estudar, aprende fundamentos (aliás, essa é uma boa forma de avaliar a sua graduação. É importante que ela te ofereça esse ambiente. Tem muitas graduações tecnológicas no mercado hoje que não oferecem e são, honestamente, bem inferiores a bootcamps grandes. Seu único diferencial é a oferta de um diploma de graduação).

Todas essas coisas tomam tempo pra aprender mas te ajudam a rampar muito rápido no futuro. Eu não fiz uma graduação em tecnologia/computação e sinto que isso ainda é algo que me atrapalha e atrasa em muitos momentos, mesmo depois de alguns anos trabalhando na área.

Pra além disso, se você pretende imigrar pro exterior, é importante saber que um diploma de graduação/pós pode ser um diferencial na hora de aplicar pra um visto de trabalho. Alguns países exigem "ou diploma ou x anos de experiência". Outros trabalham com score e diplomas te dão mais pontos, aumentando suas chances de conseguir o visto.

Apesar da questão do visto, eu nunca senti que a falta de diploma na área me prejudicou em processos seletivos do exterior. Ainda que aqui na Alemanha muito mais gente tenha graduação, mestrado e doutorado, a escassez de mão de obra pesa a meu favor. Nem aqui, nem no Brasil, ninguém nunca disse (pelo menos não na minha cara) que eu estava sendo descartada do processo seletivo por falta de diploma na área (vale dizer que eu tenho outras graduações. É provável que seja diferente pra quem não tem nenhuma.).

Mas eu sei que nem todo mundo tem esse tempo e dinheiro…

E aí existem, como alternativa, os bootcamps e as trilhas. Apesar de não oferecerem o mesmo que a modalidade anterior, também é legal, especialmente pra quem não faz ideia de por onde começar.

O objetivo aqui geralmente não é se aprofundar em conceitos (to falando de bootcamp/trilhas genéricos — ex: Bootcamp de Análise de Dados), e sim te ensinar um pouco de cada coisa que você precisa saber pra entrar no mercado. Com seu estudo estruturado, direcionado e compacto, você consegue focar em aprender o que o mercado está cobrando rapidamente, sem ficar pulando de curso solto em curso solto e desviando do que seria um planejamento coerente, ou sem se comprometer com 3–6 anos de uma graduação ou 2–4 anos de uma pós.

Mas não se engane! Você vai ter que correr atrás de entender certos conceitos mais a fundo eventualmente. Se não inicialmente, no futuro com certeza.

Muita gente afirma que bootcamps e trilhas são uma forma mais rápida de entrar no mercado do que fazer uma graduação. Mas sem uma boa mentoria e sem dedicar tempo a entender fundamentos, é fácil acabar desacelerando e ficando defasado com o tempo.

Os bootcamps e as trilhas famosos que a gente vê sendo recomendados na internet geralmente têm custo e podem ser caros. A parte boa é que você tem bastante gente com que conversar sobre o assunto antes de decidir.

Então, antes de comprar, converse com quem já fez. Mande a ementa pra pessoas mais experientes e pergunte a opinião delas. Dê uma checada pra ver se tem reclamações na internet. Pergunte se oferecem um trial, ou se a plataforma tem algum curso gratuito que segue a mesma linha. Veja se algum dos professores tem conteúdo gratuito no YouTube. Converse com seu mentor a respeito.

Se bootcamps e trilhas pagos estão fora do seu orçamento, calma!

Ainda dá pra aprender o que você precisa pela internet de graça ou pagando muito pouco. Já existem várias trilhas gratuitas, sugestões de caminhos a serem seguidos com recomendações de cursos gratuitos, que foram pensadas por profissionais experientes do mercado.

O pulo do gato aqui é encontrar recomendações boas e alguém pra te mentorar. Mentor é sempre relevante, mas nesse caso é imprescindível!

Como estudante iniciante, é muito provável que você não saiba escolher um curso apropriado pro seu nível e não consiga montar um roadmap adaptado às suas necessidades. E o excesso de informação da internet só piora tudo. Tem muito conteúdo grátis sensacional por aí, mas é muito difícil separar o que é bom do que não é.

Então o primeiro passo é procurar alguém próximo a você, que tenha mais experiência que você, que você admire, que tenha tempo e disponibilidade pra entender o seu contexto, e conhecimento pra te ajudar a desenhar um caminho que faz sentido pra você.

Alguns profissionais e algumas empresas oferecem turmas de mentoria gratuitas. Eu não saberia te direcionar pra nada específico, mas acompanhe gente da área que logo essa informação chega em você. Alternativamente, existem programas de mentoria pagos (eu nunca fiz, não sei como funciona).

Você também sempre pode tentar falar com alguém que não é necessariamente próximo de você, mas eu acho que as chances de alguém próximo topar te mentorar são maiores.

Algumas dicas pra encontrar conteúdos de qualidade

- e não cair na tentação de gastar rios de dinheiro com ciladas

Obs: essas dicas são super pessoais, pode ser que você discorde, mas funcionaram pra mim.

  • Fuja de quem promete muito

A internet tá cheia de cursinho que promete emprego no exterior em 6 meses, que diz que 90% dos seus alunos passaram a ganhar em dólar depois de fazer o curso.

Morar fora e ganhar bem são construções que dependem de vários fatores: trabalho duro e consistente, tempo de experiência, privilégio, saber vender seu peixe, e uma pitada de sorte.

Ninguém pode te garantir isso. E, se prometer, pede pra colocar em contrato.

  • Quase todo curso super caro tem um equivalente gratuito

As instituições mais prestigiadas do mundo dão cursos gratuitos no edX e no Coursera. Eu te garanto que seu influencer do coração, que cobra muitos mil reais num curso, não é a única pessoa capaz de te ensinar algo.

O que ele pode te oferecer de inédito é um programa estruturado de um jeito diferente ou uma mentoria bacana, de alguém experiente no mercado. E provavelmente é pela mentoria/interação que você tá pagando. Se você quer pagar por isso, entenda muito bem quais são os termos dessa mentoria, porque eu já vi muita gente ficar abandonada, sem resposta, ou ser mentorada por alguém outro com menos experiência.

  • Não consuma conteúdos muito especializados, ou da moda, no começo

Você não precisa saber absolutamente tudo sobre um tema. Você não precisa estar por dentro de todas as novidades. Resista à tentação de comprar aquela pilha de livros/cursos que você ainda não consegue entender, ou de assinar aquele monte de newsletters que você não consegue acompanhar.

Já ouviu falar em analysis paralysis? É real. O excesso de opções pode te deixar desesperado, paralisado e fazer mais mal do que bem.

Pergunte pro seu mentor o que faz sentido consumir no começo. Foque nos conceitos fundamentais e comece a praticar o quanto antes. Se aprofunde conforme você for sentido que já adquiriu uma visão razoável do todo e que tá conseguindo dominar o essencial.

  • Aproveite e valorize seu mentor

Um mentor é alguém que te acompanha no dia a dia, que conhece seu background, que sabe o que você quer desenvolver, que entende suas necessidades. Ele vai te apresentar possibilidades e te ajudar a desenhar um caminho que faça sentido pra você.

É muito mais eficaz pedir opinião de um ou alguns mentores que te acompanham do que pedir opiniões soltas de gente da internet que não te conhece e não pode/quer dedicar tempo pra entender o seu contexto. Se você não confia na opinião do seu mentor, tá na hora de trocar de mentor.

  • Engaje com o seu meio

Seja na graduação, pós, bootcamp, curso, workshop, LinkedIn, Discord, Twitch, sempre que você tiver a chance de interagir com professores/mentores, estudantes, colegas, faça! Faça perguntas, comente, discuta, vá em eventos/encontros/aulas ao vivo, contribua, mantenha contato, recomende coisas que funcionaram pra você, reconheça quem te ajuda, ajude outras pessoas.

Networking não é entregar seu cartão pra gente desconhecida. Networking é troca. Exige consistência, contato e suporte mútuo. E torna muito mais fácil ficar sabendo de coisas bacanas que tão rolando na área.

  • Ouça gente comprometida com promover diversidade e inclusão na tecnologia

Eu sei que isso pode soar falacioso. Eu não acredito que essas pessoas necessariamente saibam mais que as outras. Mas eu acredito que quem compartilha conteúdo de graça, ou faz projetos com pessoas em situação de vulnerabilidade social, ou dá bolsa pra minorias que não têm representação no nosso meio, ou traduz/produz conteúdo em português pra ajudar quem não fala inglês, são pessoas genuinamente preocupadas com causar impacto positivo.

Elas não tão por aí te iludindo com promessas mirabolantes, pelo contrário, tão colocando seu pé no chão. Elas te ensinam senso de comunidade: que você não precisa crescer sozinho, e que quando o seu próximo cresce, você cresce junto.

E quando elas fazem conteúdo pago, o preço é justo, acessível e elas oferecem alternativas pra quem realmente não pode pagar.

São essas pessoas que eu gosto de acompanhar e recomendar.

  • Estude com o ChatGPT aberto enquanto ele ainda é gratuito

Não entendeu um termo? Pesquisa no ChatGPT. Não consegue visualizar como algo se aplicaria num cenário real? ChatGPT. Não entendeu como dois conceitos tão relacionados? ChatGPT. Quer saber quais as vantages e desvantagens de ferramentas similares?… já sabe!

Não fica empurrando dúvida pra depois.

Discorda de algum ponto? Tem dicas complementares? Compartilha sua opinião nos comentários!

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